segunda-feira, 23 de abril de 2007

Na poltrona perto da janela


Eu estava no meio de um texto ontem quando quatro dos meus filhotes entraram correndo e gritando pelo escritório, eram as quatro "evas" como a gente diz aqui em casa, porque ainda faltam dois, mas esses são os "adãos"...

-Mãe deixa a gente desenhar na parede do nosso quarto!!!
-Deixa mãe!!
-Vai mãe a gente já sabe até o que quer desenhar.
-Eu prometo que a gente não suja nada!
-!!!!!!!!!!
-!!!!!!
-!!!

Assim que eu tive chance de responder pensei bem e disse sim, mas com uma condição:
-Todas tem que concordar com o desenho tá bom?
-Não mãe, cada uma vai ficar com uma parede e fazer um diferente.

Tudo bem, não gosto de dizer não às expressões artísticas delas.
Mal tinha eu voltado pro meu trabalho quando ouvi uma gritaria, um tal de não é justo, eu escolhi primeiro, você chegou depois, vou chamar a mamãe...
-Mããããeeeeee, manhêêê!!!!!

Claro que elas iam acabar brigando, o quarto tem quatro paredes mas uma é quase toda ocupada pelo guarda-roupa, não sobra muito espaço pro desenho. E também é claro que quem ficou sem parede foi a Luna, ela nunca corre como as outras, é tão serena... Quando ela chegou no quarto só sobrou aquela parede do guarda-roupa pra ela tadinha.

Comecei a argumentar e pedir pra elas dividirem melhor o espaço porque realmente não era justo, sugeri que elas desenhassem um pouco em cada parede mas elas alegaram que a arte delas é muito individual (tentei me lembrar de quando falei isso e uma delas ouviu pra estar repetindo pra mim como desculpa agora), não teve jeito, o jeito era vetar todo o projeto mas a Nina (a mais velha dos 6 que vieram de uma vez) teve uma idéia:
-Dá o teto pra Luna então mãe!

As outras começaram a rir, a Luna começou a chorar...
-Ah mãe...
-Filha é uma boa idéia, você desenha primeiro no papel, depois a gente pega a escada e eu te ajudo, quer? - Eu não achaava a idéia tão boa assim mas não custava nada tentar.
-Não mãe..... não.... ah mãe... o teto é muito alto eu nunca vou conseguir alcançar!!!
-Que nada sua boba, a única coisa que é alto e a gente não alcança é o céu, né mãe?
-É Mel...

A Luna olhou pela janela e deu um suspiro, eu achei que ela fosse começar a chorar de novo, mas os olinhos dela estavam brilhando de felicidade, ela perdeu o fôlego por um instante, olhou pra mim esperançosa e pediu:
-Mãe, eu não quero o teto, posso ficar com o céu?

As outras três olharam pra mim esperando a resposta meio espantadas com o pedido:
-Pode filha, o céu é seu.

Saí de lá e a Luna ficou parada no meio do quarto olhando a janela enquanto as três preparavam as coisas pra começar a desenhar, ainda deu tempo de ouvir a Mel falando pra ela:
-Como você é tonta, eu prefiro o teto, você nunca vai conseguir desenhar no céu.
-Eu não me importo.

Sentei na frente do computador pra continuar a escrever e a algazarra começou, só pararam quando realmente se concentraram nos desenhos, aí a Luna entrou devagarinho sem fazer barulho, sentou na poltrona perto da janela e ali ficou quietinha, olhando o céu que agora era dela. Por muito tempo ela permaneceu ali e quando o sono foi batendo ela falou baixinho:
-Obrigada mãe pelo céu...